HitLeap - Website Traffic EWE ERVAS SAGRADAS / HERBES / HERBO : PLANTAS MEDICINAIS

PLANTAS MEDICINAIS

PLANTAS MEDICINAIS


1 CEBOLA Como diz um autor, "posso me poupar o ter que descrever o aspecto da cebola". De fato, de tão comum em nossas cozinhas e nossas mesas, dispensa apresentações. Seu nome científico é Allium cepa, da família Liliaceae. Uma lenda muçulmana diz que, quando satanás abandonou o jardim do Éden, depois da queda, o alho surgiu da sua pegada esquerda e a cebola, da direita. Ilustra a vantagem do consumo de cebola o fato seguinte: as melhores cebolas do mundo são as da Calábria. Nesta região, por causa do consumo intenso de cebola em todas as faixas etárias, a incidência de hipertensão arterial e enfarte do miocárdio é pequena e surpreendente o elevado nível regional de longevidade humana. Infelizmente poucos dos consumidores costumeiros de cebola, que somos quase todos nós, sabem dos valores medicinais que elas têm para a saúde. É uma pena, diz um autor, que as cebolas frescas tenham tão escassa utilização medicinal, já que atuam estimulando as secreções, favorecendo a digestão, abrindo o apetite, como diurético, cicatrizante e como excelente profilático contra a gripe e o catarro, a amigdalite e a tosse. Estas indicações, tão abandonadas pela medicina acadêmica, são aproveitadas pelo popular em forma de remédios caseiros. Assim, ela é usada como antibiótica, diurética, expectorante, hipotensora, estomáquica, antiespasmódica, hipoglicêmica, útil no tratamento da tosse, resfriados, bronquite, laringite e gastroenterite. Reduz a pressão sangüínea e o nível de açúcar no sangue. Consideradas todas estas virtudes da cebola, é lógica a conclusão que tira um autor alemão atual (1996) quando diz: "Quem se mostrava até agora receoso quanto ao uso da cebola nos alimentos, é provável que mantenha agora uma opinião mais favorável. Não há nenhum condimento que seja mais sadio que a cebola (se prescindimos do alho). Crua, frita ou cozida, em rodelas, picada, em molho, com assados, com manteiga e nas saladas. Combina com tudo. Não somente serve para temperar, mas, com um uso adequado na cozinha, ajuda a viver com mais saúde. O único vilão nesta história é o tiopropionaldeído, que é a substância responsável pelas lágrimas que a cebola produz ao ser cortada. 


2 CELIDÔNIA Esta é uma planta medicinal muito importante, mas também muito discutida. Vejamos, por isso, o que dizem os livros de uso popular e os de cunho científico. O nome científico da celidônia é Chelidonium majus, da família Papaveraceae. É uma erva comum no mundo todo, onde recebe os mais diversos nomes, ligados às suas propriedades e às lendas a seu respeito. Entre os nomes populares são característicos os de iodina ou iodo vegetal, por causa do suco amarelo-alaranjado das folhas e raízes. Suas propriedades medicinais são indicadas num livro bem popular da seguinte maneira: “Calmante do fígado, cãimbra do estômago, crises asmáticas; o suco das folhas e raizes serve para fazer desaparecer verrugas, calos, espinhas do rosto. Recomendada contra a pressão alta e curar o câncer”. É recomendada também para ativar as funções hepáticas e biliares e eliminar cálculos biliares; como normalizador e regulador da taxa de colesterol. Livro europeu recente (1995), traz a seguinte indicação: Uso interno: inflamação da vesícula e conduto biliar, icterícia, hepatite, gota, artrite e reumatismo; febres renitentes, tosse espasmódica e bronquite; erupções cutâneas, úlceras e câncer (em especial da pele e estômago). Uso externo: inflamações oculares e cataratas, machucaduras, verrugas, psoríase e tumores malignos. Observa ainda que em excesso pode provocar sonolência, irritação cutânea, tosse irritante e dificuldades respiratórias. É de estranhar que muitos livros considerem a celidônia como uma planta perigosa, tóxica. Um livro francês até aconselha usar luvas para manuseá-la. Vem a calhar aqui as palavras da autora do livro sobre plantas medicinais mais vendido na Europa, Maria Treben, quando fala da celidônia: “Antigamente gozava a celidônia de grande prestígio, enquanto hoje muitos a tomam por planta venenosa. Este desprezo só me posso explicar considerando o efeito que teve a campanha de propaganda que lançou a indústria farmacêutica em seus começos contra as melhores plantas, para desviar o povo das ervas curativas e introduzir os medicamentos químicos.” Esta autora, além de confirmar que a celidônia é o remédio mais eficaz para curar os graves transtornos do fígado, diz que com ela se cura leucemia, cataratas, câncer da pele, além de outras doenças menores. É preciso reabilitar a celidônia. 


3 CENTELA-ASIÁTICA Esta planta era mais ou menos desconhecida até há pouco tempo, e nem consta nos livros populares de plantas medicinais. Quando suas propriedades foram constatadas cientificamente na década de 40, e seu uso foi aprovado no tratamento da celulite, tornou-se das mais conhecidas. Foi usada há milênios nos países orientais, principalmente para lesões cutâneas. Seu nome científico é quase idêntico ao popular, Centella asiatica, da família Umbelliferae. É uma erva daninha, rasteira, que aparece em tudo que é lugar, no meio da grama, nos jardins, terrenos baldios, beiradas de prédios, calçamentos, etc. As folhas são arredondadas, parecidas com as da violeta-de-jardim, ou lembrando uma pata de cavalo, que é um dos seus nomes populares, que aliás são muitos. Sobre suas propriedades medicinais diz um livro europeu de 1995: Erva rejuvenecedora diurética que purifica toxinas, reduz inflamações e febres, melhora a cura e imunidade e tem efeito equilibrador sobre o sistema nervoso. Usada internamente para feridas, condições cutâneas crônicas (incluindo lepra), enfermidades venéreas, malária, varizes, úlceras, problemas nervosos e senilidade. Externamente é usada para hemorróidas, feridas e articulações reumáticas. A maior procura e uso da centela-asiática é para o tratamento da celulite. E ela não é apenas mais uma planta da moda ou uma onda popular passageira. Num livro recente (1994) de dois médicos ingleses se encontram informações seguras sobre sua eficiência. Dizem eles: “Existem muitas fórmulas cosméticas e preparações à base de ervas no mercado que afirmam ser efetivas na cura da celulite. Contudo, a maioria dessas fórmulas não tem base científica que apoie seu uso. Entretanto, vários compostos vegetais tem efeitos confirmados no tratamento da celulite. Vários estudos experimentais demonstram que a centela-asiática exerce uma ação normalizadora sobre o tecido conjuntivo. Um extrato de centela-asiática contendo suas substâncias ativas demonstrou resultados clínicos impressionantes quando administrado por via oral no tratamento da celulite”. Quando tratam do problema das veias varicosas ou varizes, afirmam novamente: “Quando administrado oralmente, um extrato purificado de centela-asiática demonstrou resultados clínicos impressionantes no tratamento da insuficiência venosa dos membros inferiores e das veias varicosas. Seu efeito na insuficiência venosa e nas varizes parece estar relacionado com sua capacidade de ampliar a estrutura do tecido conjuntivo, reduzir a esclerose e melhorar o fluxo sangüíneo através dos membros afetados”. 


4 CHÁ-DE-BUGRE No início da primavera em muitos locais o ar fica todo perfumado com a floração de uma árvore baixa de copa larga, que é um chá muito apreciado. Tem muitos nomes populares como chá-de-bugre, erva-de-bugre, guaçatonga, carvalhinho, pau-de-lagarto, erva-dapontada, cafezeiro-do-mato, e outros. Felizmente, como todas as plantas, tem um só nome científico, que é Casearia sylvestris. Pertence a uma família de nome complicado: Flacourtiaceae. Esta árvore se conhece facilmente pela distribuição das folhas e flores. As folhas, pequenas e simples, estão colocadas alternadamente de cada lado dos raminhos finos, formando duas filas horizontais. Na inserção de cada folha no raminho agrupam-se conjuntos de dezenas de pequenas flores. O chá-de-bugre tem muitas utilidades. É ornamental, podendo ser plantado em pequenos espaços. Suas flores são melíferas. Bem variado é seu uso medicinal. Arnildo Pott, em ‘Plantas do Pantanal’, diz: Calmante (peão quer distância deste chá) e depurativo (diz-se que o lagarto vence a cobra se comer a folha). É considerado antidiarréico, depurativo e antireumático, diurético e para doenças da pele. Por conter princípios antiinflamatórios e analgésicos é recomendado para picada de cobras e insetos. Uma propriedade importante do chá-de-bugre é o de curar o herpes, esta infecção viral tão comum e que incomoda nas suas variadas manifestações. Para fazer o tratamento, basta fazer um chá das folhas do chá-de-bugre e tomar este chá em dose normal, digamos uma xícara 3 vezes ao dia. Além disto, umedecer com algodão embebido com o chá as partes afetadas e doloridas. Bom é fazer este tratamento assim que se manifestam os primeiros sintomas de que vai surgir uma reincidência da infecção. 



5 CHAPÉU-DE-COURO Quem for procurar informações sobre o chapéu-de-couro na literatura estrangeira vai encontrar muito pouco ou quase nada. Mesmo em nossas bibliografias estas informações são bastante limitadas. Ele é uma planta nativa da América tropical e subtropical. É encontrada, com frequência, no Rio Grande do Sul, sempre em solos úmidos, nas beiras de rios, arroios, lagos e em banhados. É uma planta até bem ornamental. Tem folhas grandes de pecíolo longo e formato ovalado ou cordiforme, com nervuras bem destacadas e cor verde forte e brilhante. As folhas formam um tufo que brota do chão. Daí também brotam as inflorescências, bem maiores que as folhas, ramificadas, com flores brancas. Seu nome científico é Echinodorus grandiflorus (ou E. macrophyllus) da família Alismataceae. Não confundir com outra planta parecida, que vive nos mesmos ambientes, que tem folhas grandes em forma de flecha, chamada sagitária. Como planta medicinal o chapéu-de-couro é de uso vastamente popular. Usam-se normalmente as folhas, mas o rizoma também é empregado. Um livrinho popular diz: "Contra moléstias da pele, reumatismo, artritismo, sífilis, afecções dos rins e bexiga; depurativo do sangue. Ajuda a baixar a pressão alta. Evita a arteriosclerose. O rizoma triturado usa-se aplicado sobre hérnia." Publicação do início do século já dizia quase a mesma coisa em outras palavras: "As folhas são adstringentes, usadas em gargarejos ou banhos respectivamente contra as inflamações da garganta e as úlceras de mau caráter; o rizoma foi reputado útil contra a hidrofobia. Recentemente vulgarizou-se o consumo das folhas em infusão, à guisa de chá, a qual tem sabor agradável sendo ligeiramente laxativa, atribuindo-se-lhe diversas propriedades medicinais (anti-artrítica, antireumática e anti-sifilítica), útil ainda contra certas moléstias da pele e do fígado, assim como a dizem depuradora do sangue e eliminadora do ácido úrico. Os ervanários tiram grande vantagem deste comércio, tanto se difundiu entre o povo a mais inabalável crença nas múltiplas virtudes medicinais que acabamos de enumerar." 

6 CIPÓ-MIL-HOMENS Há vários cipós medicinais chamados cipó-mil-homens. Recebem também os nomes de cassaú, angelicó, papo-de-peru e outros. Tratamos aqui do que tem o nome científico Aristolochia triangularis, da família Aristolochiaceae. O nome científico, Aristolochia, vem do grego e significa que é um remédio para um bom parto, o que nos lembra que já era usado por gregos e romanos. O nome popular é explicado assim por um historiador riograndense: “Esta trepadeira ou cipó é da família das Aristolochiaceae e veio-lhe tão rara denominação de uma ocorrência que tivera um curandeiro brasileiro. Expondo a energia que tem esta planta como contra-veneno da mordedura de jararaca, disse que tinha curado, por meio dela, mais de mil homens”. Se reconhece o cipó-mil-homens pelas folhas triangulares, alongadas, pela flor pequena em forma de jarrinha, e principalmente pelo cipó, que pode engrossar até vários centímetros e é coberto de uma casca de cortiça toda fendilhada. O cipó cortado ou descascado desprende um cheiro forte e característico. Seus usos populares são assim resumidos nas bibliografias: é um remédio nas febres em geral. Tônico, estimulante, estomacal, melhora o apetite, estimula os rins, o baço e o fígado, combate cólicas intestinais, constipação do ventre, diarréia, apendicite, ajuda a provocar regras, não é aconselhado durante a gravidez, é abortivo; afugenta cobras e cura suas picadas, é antídoto; usado nos estados nervosos como histeria, convulsões epilépticas, dor ciática, dor no coração, nas cadeiras, nevralgias, reumatismo, depurativo; o pó serve para curar feridas. No interior toma-se muito como aperitivo cachaça com cipó-mil-homens. Também no interior encontra-se ainda às vezes a crendice, totalmente descabida, de que as cobras mamam o leite das vacas. Os que creêm nesta lenda conhecem também o remédio para afugentar as cobras: enrolar um pedaço de cipó-mil-homens no pescoço da vaca. Semelhantemente diz também a nossa tradição que “para conseguirem os índios a preservação da mordedura ofídica, trazem junto ao corpo um pedaço deste cipó”. 

7 CONFREI Talvez nenhuma planta medicinal tenha sido objeto de tanta controvérsia nos últimos tempos como o confrei. Encontram-se os maiores defensores, como também os que condenam totalmente. Sem meter-nos nesta briga, vejamos o que há de certo sobre ele. A primeira coisa certa é que foi usado desde tempos muito antigos. Seu nome científico, que é Symphytum officinale, da família Boraginaceae. É de origem grega, e é sabido que gregos e romanos o usavam, principalmente para consertar feridas e ossos quebrados, coisa muito comum em suas guerras. É esta, aliás, a sua propriedade mais importante e certa, confirmada por todos os livros, e que é devida a uma substância chamada alantoina, abundante principalmente na raiz e que acelera a cicatrização e a soldadura dos ossos. O seu efeito cicatrizante é tão eficiente, que, entre as precauções, um livro recente (1993) diz textualmente: “No debe utilizarse en heridas sucias, ya que la rápida cicatrización puede atrapar suciedad o pus.” Outra precaução refere-se ao uso interno: “Se deve evitar o consumo interno excessivo da planta devido aos alcalóides pirrolicilínicos, que algumas investigações vinculam ao câncer de fígado em ratos.” Apesar destas precauções, a maioria dos livros, principalmente os mais recentes e estrangeiros, estão cheios de indicações para o uso interno e externo. Algumas delas: A raiz se emprega internamente no tratamento de úlceras gástricas e duodenais e da diarréia. As folhas se empregam em casos de pleurisia e bronquite. As folhas secas podem substituir o chá. As folhas frescas se empregam como verdura. Outra citação recente (1992): “Para uso interno, a presença da mucilagem aliviadora, faz do confrei um valioso remédio para as úlceras pépticas, a gastrite e a colite ulcerosa. O confrei é também um calmante expectorante útil para a bronquite e as tosses irritantes. Também é um remédio calmante para o sistema urinário.” Esta planta era tão popular em tempos passados que há até umas receitas um tanto pitorescas, como esta do século 14: “... se bebe para el dolor de espalda debido a los movimientos como la lucha o el uso excessivo de mujeres...”. 

8 CRAVO-DE-DEFUNTO Pelo seu nome esta planta não parece ter nada de medicinal. Mas sempre teve e no futuro poderá ter muito mais. Há duas plantas bem conhecidas com este nome; uma é ornamental e a outra daninha e ambas são medicinais. A planta daninha tem o nome científico Tagetes minuta, da família Asteraceae (Compositae). É também conhecida como chinchilho. É daninha, mas também medicinal. Um livro atual diz que na medicina popular a planta é reputada como linimento contra o reumatismo articular. Para um autor mais antigo é ainda aromática excitante, difusiva, diurética e antihelmíntica. Comprovadamente útil contra o reumatismo articular, as cólicas intestinais e a dispepsia. Da mesma família, com o nome científico Tagetes patula, é o cravo-de-defunto ornamental e medicinal. A sua resistência às intempéries e ao sol, a abundância e durabilidade de suas flores, assim como a sua própria cor, levaram o povo a preferi-lo para confeccionar grinaldas e coroas fúnebres, bem como para plantá-lo sobre as sepulturas (de onde se origina seu nome). A medicina popular diz que é peitoral e calmante, empregado contra as dores reumáticas, os resfriados, a bronquite e a tosse. Segundo autor atual é erva aromática, diurética, calmante e digestiva. Era isto que se conhecia sobre o cravo-de-defunto, especificamente o Tagetes patula. Recentemente, porém, apareceu nos meios de comunicação uma novidade, uma nova propriedade deste chá. Numa revista esta novidade aparece sob o título: “O cravo e a dengue”. Em poucas frases o artigo relata o extraordinário efeito deste chá sobre os sintomas desta doença: durante uma epidemia de dengue numa comunidade rural, o médico colheu uma boa quantidade de folhas de cravo e as levou até o hospital. Foi solicitado que a cozinheira preparasse litros daquele chá (10 folhas para um litro de água). Todos os casos em que havia dor muscular ou articular generalizada com febre, independentemente do diagnóstico, foram tratados pela enfermagem, perplexa, com goles do chá ainda morno. A perplexidade geral aumentou após as duas primeiras horas de atendimento. Já não havia mais as queixas de dores de cabeça, febre ou dores por todo o corpo. Em outra oportunidade, em menos de um mês, todos os casos de dengue de uma comunidade de 900 famílias de um bairro foram tratados. 

9 DENTE-DE-LEÃO Poucos imaginariam que uma planta tão comum como o dentede-leão tivesse tantas propriedades e fosse tão útil. No entanto, é exatamente isto que acontece. No livro "Enciclopédia da Medicina Natural", publicado na Inglaterra em 1990 e já disponível no Brasil em tradução, os autores dizem textualmente: "Enquanto muitos indivíduos consideram que o dente-de-leão comum é uma erva daninha indesejada, os herboristas em todo o mundo reverenciaram essa erva valiosa durante muitos séculos". Neste livro o dente-de-leão é a primeira planta que os autores recomendam para o tratamento de problemas do fígado. Segundo eles "o dente-de-leão é considerado como um dos melhores remédios hepáticos, tanto como alimento quanto como remédio". Isto é, as folhas do dente-de-leão dão uma excelente salada e as folhas e as raízes se usam como chá, tudo com efeitos benéficos sobre o fígado. Claro que tem também outras propriedades, como diz o livrinho do Irmão Cirilo, ‘Plantas Medicinais’: "...depurativo, bom para fígado e pele, melhora o sangue fraco, falta de apetite, prisão de ventre, seu suco tomado em água é um vantajoso fortificante dos nervos." E não param aí as suas vantagens. Num livro espanhol sobre plantas comestíveis se diz: "As raízes desta planta, torradas e moídas, se utilizam para fazer café de dente-de-leão, do qual se diz que não pode distinguir-se do café verdadeiro, possui também propriedades tônicas e estimulantes mas carece de cafeína, a substância que possivelmente seja prejudicial". . Afinal que planta extraordinária é esta e onde encontrá-la? Seu nome científico é Taraxacum officinale, da família Compositae. Na realidade ela é conhecida mais como "erva daninha indesejada", encontrada muito em hortas, jardins, terrenos baldios, beira de estradas e lavouras. É muito infestante: das flores amarelas se forma uma bola branca de sementes, que o vento espalha. Além disso tem uma raiz reta e profunda, que, cortada superficialmente, brota de novo. As folhas formam uma roseta ao nível do solo e são profundamente recortadas, donde o nome dente-de-leão. Originário da Eurásia se espalhou pelo mundo todo. Na Europa é tão comum que recebeu uns 500 nomes populares diferentes. Por tudo isto se reconhece que o simples e comum dente-de-leão não deve ser considerado uma planta invasora indesejada, mas um bom pasto para os animais e para os homens uma comida saudável e um remédio eficiente. 

10 ERVA-CANCOROSA A primeira coisa a observar sobre esta planta medicinal é que não se deve confundir com outra parecida que é a espinheira–santa. A erva–cancrosa é também chamada cancerosa, cancorosa ou cancorosade-três-pontas. Este último nome é muito esclarecedor, porque de fato suas folhas se caracterizam por seu formato romboidal com um espinho na ponta e um de cada lado. Seu nome científico é Jodina rhombifolia, da família Santalaceae. A erva-cancrosa é uma árvore muito elegante, de porte médio, com suas folhas espinhentas e brilhantes. É rara em nossas matas, e raríssima como cultivada. Sobressai pelo valor medicinal. Já em 1910, em sua tese de doutorado, o gaúcho Dr. Manuel Cypriano D’Avila dizia da erva-cancrosa: “Usa-se o pó torrificado das folhas sobre úlceras de mau caráter, carcinomas, etc. Também se costuma empregar a decocção de suas folhas, externamente, na cura de pólipos nasais e moléstias canceróides”. Segundo indicações recentes, as folhas são usadas internamente no tratamento de problemas estomacais e contra resfriados. O cozimento das cascas é usado como adstringente em disenterias. Um livro argentino, onde a erva-cancrosa é chamada “sombrade-toro”, dá as seguintes indicações: a casca e as folhas desta planta se empregam para combater as inflamações das vias respiratórias, digestiva e também se usa em caso de disenteria. O fruto, que é comestível, proporciona um azeite muito útil para curar as chagas venéreas. Receitas populares muito interessantes constam em outro livro argentino: “La infusión de las hojas, preparadas a razón de dos cucharadas soperas de éstas en medio litro de agua, es recomendada contra la tos. Para curar el alcoholismo, dicen que hay que beber el decoctado de las hojas durante treinta dias seguidos. Una receta de una curandera contra el asma dice que basta com hervir un puñado de hojas de sombra de toro, junto con otro tanto de “semillas” de girasol en medio litro de agua y tomar el decoctado diariamente, para eliminar dicha afección”. 

11 ERVA-CIDREIRA A erva-cidreira recebe ainda o nome de melissa, que é também seu nome científico, Melissa officinalis, da família Labiatae (hoje Lamiaceae). É uma das plantas medicinais mais universalmente conhecidas, cultivadas e usadas, e isto desde os tempos mais remotos. É uma erva de menos de 1 m de altura, muito ramificada, formando aglomerações densas. Identifica-se facilmente por seu aroma adocicado intenso. Reproduz-se por sementes ou dividindo touceiras maduras. A melissa tem uma relação estreita com as abelhas. Na mitologia, a melissa é a ninfa que descobriu a maneira de colher o mel. No primeiro século da nossa era, o romano Plínio dizia que as abelhas se deliciavam mais com a erva-cidreira que com qualquer outra planta, e era costume esfregar com ela a caixa onde um novo enxame de abelhas ia ser colocado. Suas propriedades medicinais e usos são tão variados e benéficos, que ela devia ser mais conhecida, estimada e usada. Em qualquer livro de plantas medicinais, encontram-se os maiores louvores a esta planta. Já em 1679 um inglês escrevia: “A erva-cidreira é extraordinária para o cérebro, fortalecendo a memória, e dissipando energicamente a melancolia.” Outro inglês dizia que “... a erva conforta o coração e afasta toda a tristeza...” e ela era um dos ingredientes favoritos nos elixires da juventude medieval. As folhas da erva-cidreira são boas para a depressão e a tensão, ideais para quem sofre de alterações digestivas quando se sente preocupado e ansioso. Pesquisas modernas confirmam que age como sedativo sobre o sistema nervoso central, e os aromaterapeutas recomendam seu óleo essencial para depressão, ansiedade, dor de cabeça nervosa e insônia. Da Argentina, onde é chamada “toronjil”, nos vem esta receita: “A infusão das folhas se recomenda contra ataques e dores do coração (sozinha ou misturada com orelha-de-gato – Hypericum connatum) e para diminuir a alta pressão arterial”. Um livro bem nosso resume em poucas palavras as propriedades e usos principais da erva-cidreira: “Uso popular: internamente em problemas de nervos, insônia, dores de cabeça, dor de dente, reumatismo, distúrbios gastrointestinais etc. É considerada uma panacéia.” 

12 ERVA-DE-SANTA-MARIA Para não haver confusão quando se fala em Erva-de-SantaMaria, é necessário esclarecer antes de mais nada que existem duas plantas com este nome e que receberam pelo menos mais uns vinte outros nomes populares, inclusive o de mastruço, que para nós é bem outra planta. As duas plantas têm o nome científico de Chenopodium ambrosioides, da família Chenopodiaceae. A nossa Erva-de-Santa-Maria é considerada botanicamente uma variedade, e por isso recebe o nome de Chenopodium ambrosioides var. anthelminticum. Esta última palavra significa que é contra vermes, que é sua principal propriedade. Esta planta deve ser usada com muita cautela. Um livro europeu atual diz que ela tem um odor muito desagradável e constitui um vermífugo poderoso. Usa-se internamente para áscaris, ancilóstomos e tênias pequenas; na disenteria amebiana, asma e catarro. Adverte, porém, que, em excesso, provoca tonturas, vômitos, convulsões e morte. A mesma precaução aparece também num livro argentino, quando fala do ‘paico’, como lá chamam a erva: “Con las hojas y frutos se preparan infusiones teiformes o en cocimiento que poseen propiedades antihelmínticas, digestivas, estimulantes, sudoríficas, etcétera. Esta planta debe utilizarse con suma prudencia, pues es muy peligrosa, especialmente para los niños”. Se é preciso muito cuidado com o uso interno desta planta, o mesmo não acontece com o uso externo. Pode-se usá-la para afugentar todo o tipo de parasitas. Há indústrias que fabricam uma série de produtos para higiene de animais domésticos, usando como matéria prima a Erva-de-Santa-Maria. A Erva-de-Santa-Maria chamada simplesmente de Chenopodium ambrosioides, foi, segundo relata a história, levada pelos padres jesuítas, no século XVII, do México para a Europa, para cultivá-la como sucedâneo do chá, sendo por alguns preferida ao verdadeiro chá. É uma erva muito aromática, com perfume a cânfora, usada inclusive em culinária, para aromatizar milho, vagens e pescado. Quem conhece a nossa Erva-de-Santa-Maria percebe logo que se trata de uma outra planta. 

13 ERVA-DE-SÃO-JOÃO A Erva-de-São-João está se tornando uma planta medicinal cada vez mais solicitada em nosso tempo, por ser usada como um remédio para um mal do nosso século que é a depressão. Como se trata de assunto muito importante e de responsabilidade, vamos esclarecê-lo com muito cuidado. Tanto em transmissões orais como escritas, há informações sobre duas Ervas-de-São-João: uma é da Europa, outra daqui. A da Europa tem o nome científico Hypericum perforatum, da família Hypericaceae. A nossa Erva-de-São-João tem o nome científico Ageratum conyzoides, da família Compositae. São, portanto, duas plantas diferentes, mas com uma propriedade comum: combater a depressão. A nossa Erva-de-São-João é também chamada mentrasto. A Erva-de-São-João européia pode ser encontrada entre nós, mas somente como cultivada. É chamada hipericão. A nossa Erva-de-São–João ou mentrasto não deve ser confundida com o Cipó-de-São-João, que é outra erva medicinal. Um livro tradicional sobre nossas plantas medicinais diz que esta planta é de largo uso empírico, dadas as suas valiosas propriedades medicinais, que dela fazem um remédio que goza da melhor reputação entre a gente humilde que habita o interior do nosso país. É tônico geral, amargo. Indica-se ainda no tratamento das diarréias, disenterias, cólicas produzidas pelo acúmulo de gases nos intestinos; reumatismo agudo etc. Bibliografia bem recente indica a Erva-de-São-João para artrose, reumatismo, contusões, ferimentos abertos, diarréias e disenterias, cólicas uterinas, afecções das vias urinárias, gases e estimulante do apetite. Acrescenta ainda que seu efeito terapêutico é cientificamente comprovado em pesquisas por professores e pesquisadores, que confirmam sua ação analgésica e antiinflamatória. Seu uso para combater a depressão parece ser mais recente e, como se trata de uma planta nativa nossa, faltam informações em publicações acessíveis. Entretanto, este seu uso está sendo confirmado pela informação e tradição popular. 

14 ERVA-LANCETA A erva–lanceta é uma planta medicinal muito comum em nossa região. Aparece principalmente em capoeiras, lavouras abandonadas e beiras de estrada. Se reconhece facilmente pelo lindo pendão de flores amarelas no alto de uma haste de um metro a metro e meio. Floresce pelo fim do verão e outono. Não costuma ser cultivada, mas é usada em arranjos, pois existe em abundância espontaneamente. Seu nome científico é Solidago chilensis (antes Solidago microglossa) da família Compositae. Há uma série de confusões em relação à erva-lanceta, a começar pelo nome. É chamada também arnica, arnica-do-mato, federal, flecha, vara-de-foguete, vara-de-ouro, quitoco e outros nomes. Esta erva é usada principalmente em contusões, traumatismos e reumatismos. Existem, porém, outras plantas que são usadas com a mesma finalidade. Assim, na Europa e outros lugares, uma destas plantas é a arnica verdadeira (Arnica montana). Por isso aqui a erva-lanceta é chamada arnica. E como na Europa existe a Solidago virgaurea, aqui ela é também chamada vara-deouro. Além disso, uma planta da nossa região, que é usada para a mesma finalidade da erva-lanceta, é o quitoco (Pluchea sagittalis); daí o nome de quitoco. Os usos da erva-lanceta vem indicados em livros populares. Um deles diz: Bom vulnerário (tratar feridas), frieiras, curar pontadas. Usa-se muito contra machucaduras, quedas, contusões. A raiz acalma dores e mesmo dor de dente. Estas indicações são confirmadas por estas de um outro livro: Emprega-se esta planta para curar ou aliviar azia, acidez, na digestão, diarréias. No uso interno e externo atua poderosamente combatendo traumatismos, pancadas, torções, estiramentos musculares, contusões, quedas, hematomas, dores traumáticas etc. 

15 ERVA-LUISA Esta planta medicinal é também conhecida pelos nomes de ervacidreira ou cidreira. Preferimos o nome erva-luisa, para não confundir com outras plantas que também são chamadas de cidreira, e porque combina com o nome científico que é Aloysia triphylla, da família Verbenaceae. Embora seja planta originária da América do Sul, não é muito conhecida entre nós. Se reconhece como um arbusto de ramificação alargada; os galhos são esbranquiçados; as folhas nascem sempre em grupos de três, são alongadas, estreitas, ásperas e muito aromáticas. Nas pontas das ramificações nascem cachos de flores pequenas, esbranquiçadas. A planta se reproduz facilmente por estacas. Descoberta no Chile, foi levada para a Europa e aí cultivada. Era usada para aromatizar a água, em que se lavavam as mãos nos banquetes e também para passar no corpo depois do banho. Como planta medicinal é muito útil em nosso tempo, porque é indicada para dois tipos de problemas muito comuns hoje, digestivos e nervosos. Assim diz um livro argentino: “Los tallitos y las hojas se emplean en infusiones para calmar los malestares estomacales y enfermedades nerviosas”. Uma obra de 1784 dá a seguinte informação: “As folhas e flores despedem um aroma muito agradável de limão; reforçam o sistema nervoso; e são eficazes nas indigestões, palpitações, flatulências e vertigens provenientes da hipocondria e da histeria”. As indicações da erva-luisa num livro de nossos dias mostram como seu uso é uniforme: “Antiespasmódica, estomáquica, aromática, preparada em forma de chá é benéfica no tratamento das náuseas, indigestão, flatulência, palpitações e vertigens,” Por causa do seu aroma agradável, a erva-luisa é também usada em travesseiros aromáticos e outros preparados, junto com outras ervas que se distinguem por seu aroma. Seu óleo essencial é usado em perfumaria. 

16 ESPINHEIRA SANTA É fácil distinguir a espinheira-santa de outras árvores com as quais é confundida muitas vezes. O que é característico nela são as folhas pequenas, duras, brilhantes, de um verde mais claro em baixo que em cima, com as margens onduladas e com espinhos em cada saliência, variando geralmente de 5 a 10 pares. Seu nome científico é Maytenus ilicifolia, da família Celastraceae. Muitos lhe dão o nome popular de cancorosa, inclusive os Argentinos que a chamam gongorosa ou gangorosa. Isto, claro, traz muita confusão, porque a erva-cancrosa ou cancerosa é bem outra planta. A espinheira-santa é um caso em que a experiência e a sabedoria populares foram comprovadas pela ciência, pois é a primeira planta brasileira aprovada para uso medicinal em 1988, dentro do programa da CEME (Central de Medicamentos). Em experiências com ratos e testes clínicos com seres humanos a espinheira-santa mostrou-se eficiente na cura de úlcera e no tratamento de problemas digestivos de forma geral, além de se mostrar completamente atóxica. Outros usos: internamente, como antiasmática, anticonceptiva, em tumores estomacais e contra ressaca alcoólica. Externamente, como antisséptica em feridas e úlceras. Outra indicação resume suas principais propriedades: pode-se empregar esta planta para curar ou aliviar úlceras no trato digestivo, gastrite, gastralgias, azia, má digestão, flatulência, fermentação e inflamações intestinais, hepatite, insuficiência hepática, anemia, fraqueza, doenças dos rins e bexiga, feridas, tumores, acne, eczemas etc. Precisa mais? Então só mais uma receita, bem prática e oportuna. Contra úlcera interna: misturar 30g de folhas em pó em 1 1/2 xícara (chá) de água fervente; cobrir e deixar esfriar; coar; tomar diariamente. Encontra-se nos estados do sul do Brasil, mas não se deixe enganar por amadores, que lhe queiram vender qualquer folha espinhenta como espinheira-santa. 

18 FUNCHO O funcho é sem dúvida uma planta muito conhecida. Nem tanto parecem ser suas muitas propriedades e utilidades. É conhecido cientificamente como Foeniculum vulgare, da família Umbelliferae. Com seu porte de mais de um metro, sua cor verde-clara, suas folhas finamente recortadas, encimadas pelas umbelas de múltiplas flores amarelas, é um verdadeiro ornamento na horta ou no jardim. Suas sementes são muito usadas como tempero em vários alimentos. É usado também como alimento o chamado funcho-doce, com a base engrossada e comestível. Já Dioscórides, no tempo dos romanos, se referia a ele quando dizia que há o funcho selvagem e o cultivado. "Entre o funcho cultivado, diz textualmente, há um doce em extremo, que comemos ordinariamente ao fim das refeições em Roma; o qual nasce da semente do rústico metida dentro de um figo seco e assim semeada." Deste tempo vem também a crença que as serpentes chupam o suco da planta para melhorar sua vista, depois de trocar a pele. A crença nesta propriedade acompanhou o funcho até a América do Sul, onde, no Pampa Argentino, se diz que mães mascam funcho e sopram nos olhos dos filhinhos, na crença de que com esta prática os preserve de contrair oftalmias. Outra propriedade esquecida hoje é a que consta de uma receita do Século XVI de que " as sementes, as folhas e a raiz do nosso funcho cultivado se utilizam muito em bebidas e caldos para aqueles que são gordos." Desde os egípcios, gregos e romanos, o funcho é usado e recomendado como planta medicinal. Resumindo o que um autor do século XVI dizia e que vale ainda hoje, pode-se dizer que o funcho é conveniente contra a dispepsia, as flatulências, a falta de apetite, as dores da menstruação, oftalmias, doenças biliares e hepáticas, deficiente secreção de leite, intranquilidade nervosa, úlceras e peitos inflamados. Uma das indicações mais freqüentes para o uso do funcho é de que é carminativo, isto é, combate flatulências ou gases intestinais, dizendo um autor atual que "durante la Edad Media se masticaban las semillas para acallar los ruidos gástricos durante los sermones religiosos". Da mesma época é outra expressão na língua científica de então, o latim, que diz: "Semen foeniculi pellit spiracula culi", o que em tradução livre significa que a semente do funcho provoca a expulsão dos gases intestinais, o que certamente não seria conveniente durante os tais sermões. 

19 GENGIBRE Quando se fala do gengibre é preciso primeiro distinguir entre o verdadeiro e o falso. Ambos são da família botânica Zingiberaceae. O nome científico do verdadeiro é Zingiber officinale. É de pequeno porte, folhas estreitas, flores alaranjadas. A parte subterrânea, o rizoma, que popularmente é chamado raiz, tem forma irregular característica, igual à do falso, porém de cor amarelada, cheiro perfumado e gosto muito forte e picante. Este verdadeiro só existe cultivado entre nós. Já o falso é aquele que cresce em abundância em lugares úmidos, principalmente na beira de arroios e rios. É também chamado lírio-do-brejo e seu nome científico é Hedychium coronarium. O gengibre lembra logo a gengibirra ou cerveja de gengibre, na composição da qual se usa tanto o verdadeiro como o falso. É usado também no quentão. Na culinária o gengibre é usado como tempero, como diz um livro espanhol: “... su valor reside en sus cualidades pungentes y aromáticas. El jenjibre se emplea en la cocina para aromatizar diversos alimentos en los diversos paises, y es uno de los ingredientes más importantes de la salsa curry.” Tem também muito valor medicinal. As indicações mais comuns são para o aparelho digestivo e respiratório. Diz um livrinho popular que a raiz mais se usa como digestivo, excitante do estômago, contra cólicas e gases intestinais. Autores ingleses modernos afirmam: “Historicamente, a maioria das queixas para as quais o gengibre comum é usado dizem respeito ao sistema gastrointestinal. O gengibre em geral é conhecido como excelente carminativo (substância que promove a eliminação dos gases intestinais) e espasmolítico intestinal (substância que relaxa e suaviza o trato intestinal). O gengibre é ainda amplamente conhecido como eficiente para combater náuseas e enjoos. Já os marinheiros o usavam para este fim e ainda hoje se diz que “masticar un trozo de jenjibre cristalizado alivia las náuseas y previene el mareo en los viajes”. Além disso o gengibre tem uma longa tradição de ser muito útil para aliviar os sintomas de angústia gastrointestinal, inclusive náusea e vômitos típicos de gravidez. Cubinhos de gengibre cristalizados, encontrados principalmente em casas naturais são também recomendados para inflamação da garganta, para prevenir resfriados e gripes. 

20 GINKGO Torna-se cada vez mais conhecida e usada entre nós uma árvore famosa sob muitos aspectos. É o ginkgo, cientificamente Ginkgo biloba, da família Ginkgoaceae. Para os botânicos é antes de mais nada um fóssil vivo ou árvore relíquia, como o chamava Darwin. Os chineses o chamavam árvore do avô e do neto, referindo-se à plantação da árvore, cujos frutos comeriam as gerações seguintes, por causa do seu lento desenvolvimento. Há 250 milhões de anos já existiam na terra os ginkgos, e na medicina chinesa há registros de 3000 anos atrás que indicam seu uso para problemas do pulmão e coração. A medicina moderna só recentemente começou, e continua, a pesquisar suas propriedades, mais exatamente a partir da década de 80. Hoje existem plantações de ginkgo só para pesquisas. Descobriram-se nele compostos químicos só conhecidos nesta árvore e que ainda não foram sintetizados. Em 1989 um estudo indicava que esta era a planta mais receitada na França e na Alemanha. O ginkgo demonstrou ser muito eficaz em grande número de transtornos relacionados com a velhice. Atua sobre o cérebro, aumentando o fluxo sangüíneo, facilita a cura de casos de apoplexia, melhora a memória e é indicado para pacientes que padecem de vertigens e enjoos. Também aumenta a irrigação sangüínea no ouvido interno, pelo que se usa em casos de surdez coclear, que afeta, sobretudo, pessoas de idade avançada. Melhora a agudeza visual dos anciãos. Sobre o coração reduz o risco de infarto do miocárdio. Também é eficaz medicamento para prevenir ataques de asma e se administra em casos de impotência. Entre suas mais interessantes virtudes consta a de ser um poderoso antioxidante, a capacidade de destruir os radicais livres presentes no sangue. Ainda não se demonstrou sua ação anticancerígena. Há disponíveis no mercado diversas formas de preparados à base de ginkgo. Segundo alguns autores o melhor preparado é o extrato alcoólico em forma de tintura, que se toma em gotas na água. O ginkgo é ainda uma bela e grande árvore ornamental, com suas folhas características, que adquirem uma coloração dourada, antes de caírem no outono. 

21 GUACO Com a chegada do inverno aumentam muito os problemas respiratórios. Ganha importância então uma planta medicinal eficiente no combate a estes problemas, que é o guaco. Muito conhecido da população do interior, é uma planta trepadeira nativa, fácil de encontrar nas nossas matas. É também fácil de cultivar em casa. Um pedaço do cipó maduro, de mais ou menos um palmo, serve de muda que pega facilmente. Em terra boa cresce vigorosamente. É bom plantá-la em cercas ou caramanchões; se cresce sobre árvores pequenas ou médias, toma conta delas e as abafa. A espécie usada entre nós tem o nome científico Mikania laevigata e é da família das Compostas. Tem folhas grandes, bastante grossas e brilhantes, alargadas na base, de onde partem três nervuras salientes, e terminando em ponta bem alongada e encurvada. Tem cheiro bom e característico. Demoram muito para secar; machucá-las um pouco, esfregando-as entre as mãos, acelera a secagem. Sendo planta nativa, quase nada se encontra sobre ela em livros estrangeiros. Em nossos livros as indicações para seu uso são muito semelhantes. A indicação principal é para o aparelho respiratório: resfriados, bronquites, tosses crônicas, rouquidão. Toma-se simplesmente o chá das folhas, ou em combinação com mel, suco de limão, ou, no caso de xarope, com agrião. Guaco é também calmante. É indicado ainda contra reumatismo, nevralgias, tanto em uso interno como externo. Outro uso recomendado por todos é contra mordedura de cobras. Pode ser importante para regiões bem do interior, pois nos meios mais civilizados, a escassez de serpentes peçonhentas e a facilidade de acesso ao socorro médico, dispensam tal uso. Mesmo que você não tenha necessidade de tratar nenhum dos problemas aqui referidos, não deixe de tomar seu chazinho de guaco, só pelo gosto que tem. 

22 GUANXUMA Todo agricultor conhece muito bem a guanxuma, primeiro por ser um inço terrível e, segundo, por suas propriedades medicinais. Há uma porção de espécies de guanxuma. A mais comum é a que tem o nome científico Sida rhombifolia, da família Malvaceae. Planta anual ou perene, subarbustiva, ereta, medindo 30 a 80 cm de altura, com reprodução por sementes. É altamente daninha, e muito freqüente em solos cultivados ou não. Tem sistema radicular muito profundo, sendo difícil de arrancar. É conhecida pela tenacidade de sua madeira, que serve como matéria prima para a fabricação de palitos. Por causa da mesma tenacidade, os seus ramos são usados em toda a área rural para a confecção de vassouras para varrer o pátio. As propriedades medicinais da guanxuma são variadas, como se vê em algumas indicações. Um autor do começo do século diz que é rica em mucilagem. Usa-se a decocção das raízes, ou do caule com as folhas, interna ou externamente, em inflamações. Costumam mastigar as folhas e aplicar no lugar mordido pelas vespas e outros himenópteros. Pesquisas recentes demonstraram que suas raízes têm uma ação eficaz sobre o colesterol e principalmente triglicerídios. São fortemente hipotensoras, diuréticas, antiinflamatórias e febrífugas. Popularmente a guanxuma também é usada para diminuir a queda de cabelos e para escurecê-los. Para isto basta enxaguá-los com o chá de toda a planta. Para alvejar panos, devem colocar-se raízes de guanxuma na água onde são fervidos. Um texto sobre plantas medicinais do norte da Argentina diz: “El jugo que sueltan las hojas machacadas..... se pone en la cabeza a modo de loción, de ese modo los calvos recuperan su cabello. Según he oído referir a algunas personas de edad, antiguamente los gauchos correntinos lo usaban para tener el cabello largo “. 

23 GUINÉ Esta planta medicinal, muito conhecida das populações do interior, tem ainda vários outros nomes, como guiné-pipi, pipi, tipi, caá, erva-de-guiné, erva-das-galinhas, gambá, erva-de-alho, raiz-de-gambá. A referência ao alho e ao gambá é justificada pelo cheiro fortíssimo que ela desprende, principalmente a raiz. Ao cheiro de alho é ligado também seu nome científico, Petiveria alliacea. É da família Phytolaccaceae, a mesma do umbu. É uma erva que chega a mais de um metro de altura, ramificada, de folhas bem verdes, de onde sobressai uma haste longa, ao longo da qual se formam as flores pequenas e brancas e depois as sementes, em forma de ponta de flecha, que se pegam na roupa. O uso mais conhecido desta planta entre a população, não é o medicinal, mas o mágico. O brasileiro tem muita fé nos efeitos deste vegetal, por isso frequentemente tem um pé plantado no jardim ou vaso de sua casa, junto com a arruda e a espada-de-são-jorge. O mesmo uso vem confirmado por um texto argentino em que se diz que é erva silvestre e bastante cultivada em pátios e jardins, não tanto por suas qualidades ornamentais, mas antes porque o povo lhe atribui propriedades mágicas, servindo para preservar os habitantes da casa contra as feitiçarias. Sobre o valor medicinal da guiné há muita controvérsia. Em bibliografia européia recente (1995) a guiné tem uso interno recomendado para espasmos nervosos, paralisia, histeria, asma, tosse convulsiva, pneumonia, bronquite, rouquidão, febre, enxaqueca, gripe, cistite, enfermidades venéreas, problemas menstruais e abortos. Numa bibliografia popular nossa as indicações são: afecções da cabeça, enxaqueca, falta de memória, reumatismo, paralisia, estados nervosos; a raiz tira dor de dente. Seu abuso afeta a vista, leva à cegueira. Comprovado contraveneno de cobra, ajuda nas menstruações difíceis; é abortiva. Um livrinho diz textualmente: É planta tóxica. Sua raiz, na forma de pó, era usada, durante a escravatura para ‘amansar’ os senhores de engenho, colocada pelos escravos em pequenas doses, em seu alimento. Entretanto, uma grande autoridade no assunto de nossos dias, diz que a pesquisa tem demonstrado que este vegetal é imunoestimulante e com propriedades antitumorais, não apresentando os sintomas que os escravos preconizavam: causar superexcitação, alucinação, convulsão, imbecilidade e até a morte. Uma pequena receita para a garganta inflamada:1 xícara de água, 1 cm de raiz de guiné e 1 folha de baleeira. Dar uma leve fervura, deixar amornar e fazer gargarejos. 

24 HORTELÃ A hortelã é sem dúvida uma das plantas medicinais mais conhecidas e mais usadas em todo mundo e desde os tempos mais antigos. Não é, porém, uma hortelã, mas muitas, todas semelhantes nas características e também nas propriedades. São de fato tantas que, se diz que, se um botânico afirma que reconhece e distingue todas elas, não é de confiança. E já no século XII um botânico dizia que "se alguém é capaz de relacionar todas as propriedades da hortelã, sem dúvida saberá também quantos peixes nadam no Oceano Índico". Tem ainda os nomes de hortelã-pimenta e menta. O nome científico da espécie mais conhecida e usada é Mentha piperita, e a família Labiatae (ou modernamente Lamiaceae). As hortelãs são ervas baixas, de ramos finos, geralmente rastejantes, que enraízam ou se propagam por baixo da terra, sendo facilmente reproduzidas por mudas. A hortelã, além do uso medicinal, é também uma bebida gostosa de tomar, por seu aroma agradável e gosto característico e picante. Como medicinal tem inúmeras propriedades, que de modo geral agem sobre o sistema digestivo e nervoso. Os ingleses a trouxeram para a América com a fama de "chá para todas as doenças". Um livrinho popular sobre plantas medicinais diz: "estimulante, tônica, digestiva, prisão de ventre, vermes, calmante e contra reumatismo; com o bagaço limpam-se feridas". Outro livro, este científico, diz: "internamente em distúrbios digestivos com náuseas e cólicas, nas diarréias, resfriados, dores de cabeça, musculares, da garganta e dentes". Um chá de hortelã, feito com leite em lugar de água, é um conhecido remédio contra vermes em crianças. Um livro em espanhol diz: "las hojas y sumidades poseen propiedades estimulantes, digestivas, carminativas, antisépticas, etcetera". Segundo um livro inglês, a hortelã é usada no tratamento de diversos transtornos gastrintestinais, quando se requerem suas propriedades antiflatulentas, antiespasmódicas e aperitivas. Usada também para dores de cabeça nervosas e agitação. Dois autores tchecoeslovacos dizem que a hortelã estimula a secreção de sucos digestivos, diminui os gases e as diarréias, atenua as cólicas do aparelho digestivo e estimula a secreção biliar. Industrialmente a hortelã é produzida em grande escala para extração de óleos e essências, usados em produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentares. 

25 LINHAÇA A linhaça é a semente do linho. O linho se conhece como fibra para confecção de tecidos. Por isso é mais conhecido o linho. A linhaça como medicinal, já foi mais conhecida e usada antigamente, mas recentemente voltou a ser apreciada por certas propriedades. O nome científico da planta é Linum usitatissimum, e é muitíssimo usado, da família Linaceae. É planta cultivada pelo menos desde 5.000 anos a.C., e as propriedades medicinais das sementes já eram conhecidas pelos gregos. Hipócrates as recomendava para as inflamações das membranas mucosas. Carlos Magno publicou leis que impunham o consumo das sementes para que seus súditos conservassem a saúde e, modernamente, Mahatma Ghandi dizia que onde a linhaça se convertesse em um alimento habitual para o povo melhoraria a saúde. Uma receita popular diz que o chá da semente usa-se contra diabete, inflamações do estômago, bexiga, colites, intestinos, hemorróidas e da garganta. Uma colher de semente em jejum de manhã faz bem na prisão de ventre. Um autor moderno confirma estes usos, especificando que para a prisão de ventre se comem 1 a 2 colheres de sementes seguidas de um ou dois copos de água; as sementes incham no trato digestivo produzindo um laxante de massa suave. As informações tradicionais sobre o uso medicinal da linhaça são confirmados e ampliados por dados da pesquisa moderna, segundo a qual a linhaça constitui uma substância nutricional valiosa para a saúde, porque além de proporcionar uma rica fonte de fibras solúveis e insolúveis, a linhaça oferece importantes ácidos graxos ômega-3. Por isso, acrescentar linhaça à alimentação pode ajudar a baixar níveis de colesterol sérico, tanto nos animais como nos seres humanos. 

26 LOSNA A losna é planta medicinal muito conhecida. Em qualquer propriedade em que se plantem chás, é quase certo que um deles é a losna. Ela tem propriedades muito boas, mas também muito fortes, a ponto de chegar a ser tóxica. Por isso deve ser tomada sempre com precauções. Cabe lembrar aqui como é falso aquele princípio, que muitos seguem no uso de plantas medicinais, de que “se bem não faz, mal também não faz”. Reconhece-se a losna como uma erva baixa bem ramificada, de coloração geral verde-acizentada, de folhas recortadas e, principalmente, por seu cheiro forte e característico. Seu nome científico é Artemisia absinthium, da família Compositae (Asteraceae). Segundo os livros, a losna é usada há pelo menos 3.500 anos para expelir vermes intestinais, sendo até hoje usada com esta finalidade. Do tempo dos romanos sabe-se que a plantavam ao longo das estradas e que os soldados usavam raminhos dela nas sandálias para combater a dor nos pés durante as longas marchas. Um dos usos medicinais da losna é na composição de bebidas alcóolicas amargas, como o conhecido vermute. Entretanto, todos os autores alertam sobre os problemas que resultam do uso exagerado de tais aperitivos. O uso prolongado leva a um processo de degeneração nervosa irreversível. Por isso, um tratamento à base de losna não deve exceder três semanas. Usada em altas doses é psicoestimulante, provocando perturbações psíquicas e alucinações. Apesar da recomendação destas precauções, não é preciso deixar de usar a losna, que tem propriedades benéficas poderosas. Como outras plantas amargas, usa-se a losna em tratamentos internos, seja pura ou em misturas, para estimular o apetite, a secreção dos sucos gástricos e da bile, contra cólicas intestinais, ou, como diz outro autor, para o tratamento de doenças gástricas com produção diminuída de ácido, e para os transtornos hepáticos ou biliares com perda de apetite, sensação de repleção e mau hálito. E ainda uma observação: os aperitivos amargos agem principalmente através da mucosa bucal, para estimular a secreção estomacal. Por isso devem ser bem ensalivados. 

27 MAÇÃ A maçã é a fruta da macieira. Tanto a fruta (pseudo-fruto ou pomo para os botânicos) como as folhas da árvore têm valor medicinal. Quase não se fala do valor das folhas. Um livrinho popular diz: chá das folhas nutre o baço e o sistema nervoso, produz sono calmo, é um desinfetante para a boca. A fruta tem valor medicinal bem grande, embora tradicionalmente seja consumida como alimento. Já os antigos tinham um provérbio que em várias línguas diz o mesmo: uma maçã ao dia, mantém afastado o médico. O nome científico da macieira é hoje Pyrus malus, da família Rosaceae. Vem sendo cultivada desde o tempo dos Romanos, que empregavam as maçãs maduras como laxante e as verdes contra a diarréia. Um livro bem popular diz: a maçã é fruta gostosa, tônica, nutritiva, de digestão fácil. O vinagre de maçã ajuda a emagrecer, tomado duas vezes ao dia, uma colher de sopa por vez. Uma receita popular do norte da Argentina diz que para acalmar ou prevenir a acidez estomacal resulta muito eficaz comer uma maçã antes de dormir. Já um livro inglês atual informa que um estudo de 1983 mostrou que as maçãs podem reduzir o nível de colesterol no sangue. Na composição da maçã se encontram de 10 a 15% de açúcares e uns 5% de proteínas. Além disso é rica em pectina, vitaminas, ácido málico, tartárico e gálico, assim como em sódio, potássio, magnésio e ferro. Grande parte das vitaminas e minerais se localizam na casca ou logo abaixo dela, pelo que, para obter todos os seus princípios nutritivos devem ser consumidas sem descascar. Daí um alerta para os diabéticos: os açúcares da maçã se assimilam facilmente. Mas a rapidez da absorção é um inconveniente para pessoas diabéticas: neste caso se recomenda comer a maçã com casca, já que esta contém a maior parte da pectina (fibra dietética solúvel) a qual ajuda a atrasar a absorção destes açúcares. Por fim, um apelo: se você tem um amigo que planta maçãs, insista com ele para reduzir ao máximo as pulverizações com agrotóxicos, para se poder comer tranqüilamente suas maçãs sem descascá-las. 

28 MACELA Esta planta medicinal, tão comum em nossos campos, capoeiras, beiras de estradas e roças abandonadas, pode ser também chamada de marcela. Bem complicado é seu nome científico: Achyrocline satureioides. Esta é a macela mais comum. Existe também por aqui uma outra, menos freqüente, que se distingue da primeira por suas estruturas ao longo dos caules e ramos, que os botânicos chamam alas membranáceas, enquanto a comum é bem lisa. Nota-se também uma diferença na cor das flores, sendo o amarelo da segunda um pouco mais carregado. As propriedades medicinais de ambas são as mesmas. E essas propriedades e usos da macela são tão populares em nossa região, que são certamente do conhecimento de todos. Em todo caso o uso popular e as indicações da literatura coincidem em recomendar a macela para problemas digestivos. E uma macelinha no chimarrão ou um chazinho dela continuam a resolver muitos problemas do estômago, do fígado e dos intestinos. Segundo antiga tradição entre nós a macela se coleta na madrugada da Sexta-Feira Santa. Tem este costume uma base no fato de ela florescer por esta época e são exatamente as flores que se coletam e se usam. Mas por razões climáticas ela pode, por exemplo, florescer mais cedo, sendo então indicado colhê-la antes para não colhê-la passada. Importante é também cuidar com os locais onde se coleta. É muito tentador descer do carro, estacionado no acostamento, e catá-la à beira da estrada ou da faixa, onde se encontra frequentemente e em abundância. Mas isto só se pode fazer em estradas do interior, porque nas rodovias de grandes tráfegos toda ela está infelizmente poluída e contaminada pela fumaça dos carros, imprópria, portanto, para o uso. Além do uso medicinal a macela entra também em preparos cosméticos, principalmente para clarear e acentuar a cor do cabelo. Um uso interessante da macela é ainda em travesseiros aromáticos, onde, sozinha ou em composição com outras ervas, tem efeito tranqüilizante sobre o sono. Ainda recentemente um amigo me afirmava que, quando usava seu travesseiro de macela, sonhava tudo colorido. 

29 MAMÃO Todos conhecem o mamão, fruto do mamoeiro, como alimento. Fruta gostosa, consumida de diversas maneiras. Como é uma fruta tão nossa, vale a pena conhecer também, algumas de suas propriedades medicinais, certamente menos conhecidas. O mamoeiro, de nome científico Carica papaya, da família Caricaceae, é originário do noroeste da América do Sul, de onde se espalhou por todo o Brasil, e daí para a África e as Índias. O mamão consumido como fruta já tem valor medicinal. A sua polpa é por excelência a fruta do cardápio nutrológico do paciente com úlcera péptica, gota, obesidade, diabetes, sendo largamente usado nestas doenças. Possui o mamão inúmeras virtudes medicinais, devido ao seu rico teor em vitaminas A, C, todo o complexo B, proteínas, açúcar, cálcio, ferro, fósforo, sódio, potássio e a enzima papaina. À respeito dela já dizia um livro do início do século, que o tronco da árvore, o fruto e as folhas fornecem pela incisão um suco lácteo, que é aconselhado externamente contra as sardas. Misturado com água, este suco tem a singular propriedade de amolecer em poucos minutos a carne que se mergulhou nele. É de uso imemorial na Índia juntar pequena quantidade deste suco à carne quando é dura e coriácea, para torná-la tenra, mais agradável e de digestão fácil. Basta mesmo, para obter este resultado, envolvê-la nas folhas da árvore por pouco tempo: este último processo aplica-se em algumas partes do Brasil, para tornar tenra a caça. Um livro recente de Cuba tem estas indicações medicinais: o principal uso farmacêutico do mamão é como digestivo, já que favorece a digestão das proteínas e é útil em casos de dispepsia crônica; seu uso externo contribui para a cicatrização das feridas. Também pode empregar-se em cirurgia para reduzir a incidência de coágulos de sangue, assim como para o tratamento local das enfermidades da boca, faringe e laringe, e um dos usos mais antigos como anti-helmíntico. Além disso é usado para clarificar cervejas e para a maceração de couros. E ainda uma receita popular do norte da Argentina: a infusão das flores do mamão macho, ou seja as do pé masculino, se usa muito comummente contra a tosse comum, a tosse convulsiva e a asma. 

30 MANJERICÃO É muito provável que poucos conheçam o manjericão como planta medicinal. Realmente ele é mais conhecido como tempero, por exemplo como o principal ingrediente do clássico pesto Genovese. Não deixa, porém, de ser também uma interessante planta medicinal. O nome científico da variedade mais comum é Ocimum basilicum, da família Labiatae (Lamiaceae). Do seu nome específico basilicum surgiram mal entendidos e lendas ligadas a ele, e isto séculos antes de Linneu lhe dar este nome. Basilisca era e é o nome latino popular do manjericão. Basiliscus é uma serpente fabulosa, que, segundo a lenda, matava com os olhos. Desta confusão de nomes surgiram as crenças mais esquisitas, como a de que, para que a planta se desenvolva bem, deve-se plantá-la proferindo pesados palavrões. Diziase que os escorpiões gostavam de esconder-se nos vasos de manjericão, e que um broto deixado debaixo do vaso se transformava num escorpião. Ou ainda, que, aspirando o pó das folhas como rapé, escorpiões se aninhavam no cérebro. Interessante é uma receita popular do manjericão do norte da Argentina que diz textualmente que “cuando se agusana la parte interna de la nariz, se hacen oler hojas estrujadas entre los dedos; luego de repetir varias veces el tratamiento, las larvas se desprenden solas”. Lembro que gusanos são vermes. Para lombrigas a receita de uma curandeira é comum: esmagar plantas de manjericão num recipiente e acrescentar leite fervendo; deixar amornar, coar e tomar em jejum vários dias. Passando do lendário e popular ao erudito e, supondo conhecidos os usos culinários do manjericão, vejamos alguns de seus principais e comuns usos medicinais. Uso interno: enfermidades febris (em especial resfriados e gripes), má-digestão, náusea, caimbras abdominais, gastroenterite, enxaqueca, insônia, depressão e esgotamento. Uso externo: acne, perda de olfato, picadas de insetos e serpentes e infecções cutâneas. Gargarejos e bochechos com o chá morno fazem desaparecer as aftas. 

31 MARROIO Esta planta medicinal é certamente menos conhecida entre nós do que merecia, porque, além de ter muitas propriedades medicinais, é também uma bela planta ornamental. Cresce em tufos de muitas hastes. As folhas, cinzentas e peludas, nascem aos pares, opostas, acima das quais se formam ao longo da haste uns anéis engrossados, formados por muitas flores brancas. Seu nome científico é Marrubium vulgare, da família Labiatae. É planta conhecida e usada desde a antiguidade. Contém um expectorante poderoso e foi usada por primeiro como remédio contra tosse no antigo Egito. É uma das ervas amargas que os judeus comiam por ocasião das festas da páscoa. Na idade média já se dizia que “um xarope feito com as folhas verdes e frescas do marroio e açúcar é um remédio extraordinário contra a tosse e os pulmões ofegantes”. Em qualquer livro que se pesquisa se encontram as mais variadas receitas à base de marroio, como estas: “Para curar a dor de estômago, nossos avós bebiam vinho branco no qual se deixavam macerar inflorescências de marroio durante toda a noite”. “A medicina popular sempre contou com o marroio para curar bronquite, tosse e catarro crônico. Os herboristas recomendam-no para melhorar a circulação, para aliviar problemas do fígado e cólicas menstruais. Em todos esses casos, faça uma bebida padrão e adoce-a com mel; tome duas colheres de sopa três a quatro vezes ao dia.” “Ao primeiro sinal de constipação, picar nove folhas pequenas de marroio, misturar com uma colher de sopa de mel e comer lentamente, para aliviar a irritação da garganta e a tosse. Se necessário, repetir várias vezes,” O marroio foi considerado a cura ao mesmo tempo para uma variedade impressionante de males, desde mordida de cão raivoso a tumores e falha de visão. Tomado frio o marroio promove a secreção biliar, ajudando todo o processo digestivo, e foi por causa do seu efeito tônico que o marroio foi tradicionalmente fermentado e bebido nas regiões orientais da Inglaterra. O marroio era outrora adicionado a alimentos cozidos, saladas e molhos, mas o seu sabor amargo de mentol não é para o gosto de qualquer um. A forma mais popular de ingerir o marroio na atualidade é como caramelo; chupa-se para aliviar a tosse bronquial e a bronquite. 

32 MASTRUÇO O mastruço é uma daquelas plantas que são duplamente utéis: são medicinais e comestíveis. O mastruço recebe também outros nomes, como mastruz, mentruz, mentrusto. Há bastante confusão em relação a estes nomes: assim como o mastruço tem vários nomes, várias outras plantas recebem o nome de mastruço. Em muitas regiões do Brasil é chamada mastruço outra planta, que nós conhecemos como erva-desanta-maria, que é um chá contra vermes, de cheiro muito forte e usado também para espantar insetos. O nosso mastruço tem o nome científico Coronopus didymus, da família Cruciferae. Como alimento é geralmente usado em saladas, quando as folhas são novas. Sendo de gosto muito picante, é bom misturá-lo, em menor quantidade, com outras saladas. É também muito usado na cachaça, tanto como aperitivo como para afomentações. Tem boa quantidade de vitamina C e é muito rico em cálcio e ferro. Pode ser usado em omeletes e refogados. O mastruço é de origem sul-americana e muito conhecido e usado nos países do Prata. Por isso são muitas as informações sobre seu valor medicinal e alimentício na língua destes países, como as seguintes: “El mastuerzo es muy digestivo, amargo, aromático, algo picante y muy buscado por ciertas personas que lo consumen en salada. Es muy usado tambien como antiescorbútico por el elevado contenido de vitamina C que posee. Se emplea toda planta en cocimiento.” “La infusión de la planta, o ésta puesta en el agua para el mate, se toma como hepático y digestivo. El decoctado, en tomas fuertes, sirve como remedio para golpes, y con el agregado de azúcar, suele ser recetado por algunos curanderas contra la tos convulsiva y el empacho de las criaturas.” Um autor gaúcho, num livro de 1910, conclui assim: “Usa-se toda planta em infusão como excitante, anti-escorbútica, antituberculosa. O suco é vermicida. Também comem a planta crua.” 

33 MELÃO-DE-SÃO-CAETANO Existe em nossas capoeiras e roças uma trepadeira, que é pouco conhecida pela população, sendo menos conhecidas ainda as suas propriedades medicinais, talvez totalmente desconhecidas para a maioria. Entretanto, como medicinal, ela pode ter um futuro brilhante. É o melãode-são-caetano, com o nome científico de Momordica charantia, da família Cucurbitaceae, parente portanto do pepino e da melancia, o que se nota facilmente pelo formato da folha e da flor. O fruto é característico e inconfundível: é alongado, afinado nas pontas, de uns 15 cm de comprimento; é todo recoberto por saliências que lhe dão o aspecto peculiar. Quando verde é branco, ao amadurecer adquire uma linda cor amarelo-dourada. Racha em três pontas, e então aparecem, presas no interior, as sementes, cobertas por uma substância vermelha, que é comestível. As sementes, achatadas, têm lindos desenhos em alto relevo. Originária da Ásia e da África, a planta se aclimatou muito bem no Brasil, para onde foi trazida pelos escravos, que a teriam cultivado ao redor de uma capela dedicada a São Caetano, de onde o seu nome. O melão-de-são-caetano é usado de diversas maneiras. Até suas fibras são usadas para estofados e tecidos. Suas folhas branqueiam e tiram manchas dos tecidos, por isso é chamado também erva-das-lavadeiras. É também usado como alimento. Enquanto novos, os melões podem ser consumidos crus em saladas, fritos ou cozidos. Na Europa é cultivado em larga escala, pois consomem-se seus frutos em estado natural ou em forma de picles. O principal uso, porém, é na medicina. É tomado o chá como preventivo da gripe, contra febres; as folhas na leucorréia, cólicas dos vermes, nas menstruações; o revestimento das sementes com vaselina dá um ungüento supurativo. O suco do fruto é purgativo, vermífugo e contra hemorróidas; o chá das folhas combate o diabetes. Estas indicações são de um livrinho popular, como também a seguinte: “No diabetes. Decocção: 20 g de folhas picadas (frescas ou secas) em um litro de água durante um minuto. Deixar em infusão durante 10 minutos. Tomar uma xícara (chá) pela manhã e outra antes do jantar.” Estas indicações populares são hoje confirmadas por pesquisas e testes científicos, que um livro inglês atual resume desta maneira: O melão-de-são-caetano é um vegetal tropical amplamente cultivado na Ásia, África e América do Sul, e tem sido usado extensamente na medicina popular como um remédio para o diabetes. A ação diminuidora do açúcar sangüíneo do suco fresco ou do extrato da fruta verde foi claramente estabelecida em estudos clínicos e experimentais. 

34 MIL-FOLHAS Esta planta medicinal é também muito ornamental por causa de suas flores brancas e folhas finamente recortadas, o que justifica seu nome. É usada desde os tempos mais remotos até hoje. Além de milfolhas é chamada ainda mil-em-rama, mil-folhada e milefólio. Seu nome científico é Achillea millefolium, da família Compositae. Achillea vem das lendas ligadas ao herói grego Aquiles, que teria curado com ela as feridas do rei Telefo, dos seus soldados e o seu próprio calcanhar. Uma lenda mais fantasiosa diz que sua mãe o mergulhou num banho de milfolhas para o tornar invulnerável a ferimentos. Como ela o segurou pelo calcanhar, este se tornou seu ponto fraco. Sua fama de curar feridas lhe deu outros nomes, como erva-dos-militares, erva-do-bom-Deus, erva-deSão-João e salvação-do-mundo, isto porque, ainda segundo uma lenda, quando São José, carpinteiro, se feriu, o menino Jesus foi buscar uma planta para curá-lo, e esta planta era a mil-folhas. Conforme diz um livro atual “é uma planta medicinal por excelência e possui qualidades antissépticas fantásticas. Com ela não existe infecção e poderia ser chamada de iodo ou mercúrio-cromo da natureza. Suas folhas e flores são consideradas tônico digestivo, remédio contra cálculos renais, calmante cardíaco, enfim no uso interno é um verdadeiro cura-tudo. No uso externo, como se viu antes, desde Aquiles vem curando toda a sorte de ferimentos, úlceras, contusões, hemorragias do nariz e hemorróidas”. Em resumo, ela merece realmente seu nome mais recente, pronto-alívio, porque cura ferimentos, estanca hemorragias, alivia dores (de dente, por exemplo), combate gripes e resfriados, é um tônico digestivo, abaixa a febre, é útil nos transtornos urinários e problemas menstruais. E existem ainda outros usos para a mil-folhas. Com ela se faz um vinho e também um licor. Nos meios rurais é utilizada não só devido às suas numerosas propriedades medicinais, mas ainda para conservar o vinho, introduzindo no tonel um pequeno saco com sementes. 

35 MORRIÃO-DOS-PASSARINHOS Há uma plantinha, muito comum principalmente nas lavouras, mas ocorrendo também em qualquer espaço, que parece tão sem importância, que poucos conhecem o seu nome, muito menos sua utilidade. Pela maioria é considerada simplesmente um inço, quando não passa de todo despercebida. Seu nome científico é Stellaria media, da família Caryophillaceae. O nome comum, morrião-dos-passarinhos, como também seu nome em espanhol e alemão, por exemplo, lembra uma de suas grandes utilidades: a de servir de alimento para os pássaros. É uma erva rasteira de raminhos finos, que se alastram pelo chão com florzinhas brancas, em forma de estrela (Stellaria) e sementes minúsculas, que os passarinhos, como por exemplo a rolinha, catam no chão. Antigamente era esta planta usada para alimento dos pássaros nas gaiolas. Era e é usada também na alimentação humana. Por isso diz um autor: em vez de arrancá-la, vale a pena lembrar que ela se recolhia tradicionalmente como hortaliça. Outro autor diz que esta erva foi muitas vezes usada como alimento para as aves e, sobretudo no inverno, constitui uma das poucas fontes de sementes frescas, para estes animais. Foi utilizada também como alimento para o gado e inclusive para o homem, e este foi seu emprego mais estudado. Quanto a seu valor medicinal, diz textualmente o autor de um livro popular: “Planta daninha que cresce mais durante o inverno. É interessante observar que o gato, sofrendo de diabete, vai instintivamente procurá-la para se curar. O chá desta plantinha favorece as vias respiratórias, cura as inflamações dos brônquios. Externamente, é adstringente, ajuda a curar inflamações e feridas, cataplasmas favorecem o amadurecimento de abcessos.” Em 1597 já dizia um autor da época “em uma palavra, reconforta, ajuda a digerir, protege e faz supera muito notavelmente”. Modernamente se diz que se emprega a erva fresca, se é possível, para fazer uma preparação limpadora e tônica que alivia o cansaço e a debilidade. É útil nas inflamações das vias urinárias como a cistite. 

36 PATA-DE-VACA Este é um chá genuinamente nosso, tanto por existir espontânea em nossa região, como por ser muito conhecido e usado pelo povo para problemas de rins. Existe pata-de-vaca árvore e pata-de-vaca cipó. Patade-vaca árvore são duas. Uma tem o nome científico Bauhinia candicans e a outra Bauhinia forficata. Em nossa região existe mais a primeira. Ambas são da família Leguminosas. São árvores de porte médio que crescem principalmente em beira de matas e capoeirões. Se conhecem facilmente pela folha, que é fendida longitudinalmente até pela metade, donde a semelhança com um casco bovino. Na base de cada folha há dois espinhos, um pouco curvos. A flor é grande, de pétalas brancas, um pouco retorcidas. As vagens são achatadas, muito duras e, quando secam, estalam, jogando as sementes longe. A pata-de-vaca cipó se encontra no interior da mata e costuma subir nas árvores bem altas. Seu nome científico é Bauhinia langsdorffiana, também das Leguminosas. É chamada também cipó- escada-de-macaco, porque o cipó, principalmente quando mais velho, é achatado, largo e ondulado, parecendo formar degraus de escada. As folhas são também fendidas e cobertas com uma penugem finíssima que lhe dá uma coloração acobreada. As flores e frutos são pouco conhecidos, porque sempre se encontram no alto das árvores. A pata-de-vaca cipó não tem espinhos. Muitas vezes se confunde a árvore pata-de-vaca com outra árvore ornamental também chamada pata-de-vaca ou mororó, mas que se distingue da verdadeira pata-de-vaca porque não tem espinhos e as folhas são maiores e mais arredondadas e as flores são coloridas. Esta não é medicinal. Os chás da pata-de-vaca, tanto árvore como cipó, são indicados para os rins. São amplamente usados como diuréticos. Além disso, em muitos estudos, publicados em vários livros e escritos científicos, antigos e modernos, são indicados para a diabete. 

37 PICÃO-PRETO Planta das mais conhecidas e mais importunas para quem vive no campo, onde se reproduz abundantemente em lavouras e qualquer espaço livre. Importuna por causa das sementes que com seus minúsculos ganchos se prendem à roupa das pessoas e ao pêlo dos animais, favorecendo sua disseminação. Seu nome científico é Bidens pilosa, da família Compositae (Asteraceae). É planta típica da América tropical, abundante em todo o Brasil. Na literatura estrangeira só se encontra referência a uma outra espécie, Bidens tripartita. Um livro de 1910 diz textualmente, na ortografia de então: “Tem princípio acre e mucilaginoso. Usa-se o decocto dos ramos e das folhas, assim como o succo. Externamente, o decocto é empregado como vulnerareo e cicatriciante, e, em gargarejos nas anginas simples, amygdalites, etc. Cataplasmas são tambem empregados como revolutivos das glandulas engurgitadas. O succo é empregado internamente contra as manifestações de ictericia. Acreditamos que, o infuso dos ramos e folhas tenha propriedades agindo sobre o canal aéreo.” Citações de livros atuais apresentam, entre outras, as seguintes indicações. É freqüente o uso do chá para combater icterícia e, principalmente, empregado para combater hepatites. Regenera o tecido lesionado por ferimentos ou feridas, cicatrizando-o. Tem atuação comprovada na diminuição da glicose no sangue, ativando o pâncreas na distribuição da insulina. Normaliza o distúrbio orgânico caracterizado pelo aumento da bilirrubina no sangue das pessoas que estão com icterícia. Certamente a indicação que mais interessa hoje é a relativa à diminuição da glicose no sangue. Esta mesma indicação se encontra também em livro recente de Cuba, onde se diz textualmente que “en otros países se usa como hipoglicemiante, actividad verificada en Colombia en animales de experimentación”. Além do picão-preto é conhecido entre nós o picão-branco, ao qual se atribuem as mesmas propriedades. 

38 POEJO O poejo é uma planta medicinal bem familiar, principalmente entre o povo do interior, onde qualquer mãe sabe que um chazinho de poejo é um santo remédio para as cólicas das crianças. O conhecimento e o uso do poejo vem desde a Antiguidade. Assim diz, por exemplo, textualmente um livro antigo, em espanhol, falando das virtudes do poejo: “Son parecidas a las de la menta. En general, el poleo (poejo) se considera un buen tónico estomacal, digestivo y carminativo; la gente del campo lo emplea con predilección contra los dolores de tripas. También sirve para ahuyentar las pulgas, como la albahaca (alfavaca) los mosquitos, por lo menos así viene diciendose desde la Antigüedad.” Um livro moderno diz que pode ser usado em transtornos gástricos leves, flatulência, naúseas, dor de cabeça e dores menstruais. Em combinação com outros remédios é benéfico nas primeiras fases do resfriado comum. As folhas frescas podem ser aplicadas externamente para aliviar as irritações cutâneas e as picadas de insetos. Existem por aqui dois tipos de poejo, que correspondem a duas espécies diferentes. Uma espécie é originária da Europa e seu nome científico é Mentha pulegium. A outra espécie é originária da América do Sul e se chama Cunila microcephala, ambas da família Labiatae. Cunila microcephala, o poejo nativo, é o mais comum, de folhas bem pequenas, caules finos e longos, que se estendem pelo solo. É o que todo mundo usa e é o mais cultivado. O outro, chamado Mentha pulegium, é mais raro, de folhas maiores e mais claras. O aroma deste é também forte e agradável, como o do outro. As propriedades de ambos são as mesmas, sendo, portanto, também os mesmos os seus usos. Nos livros as referências são quase todas para Mentha pulegium, o de origem européia, conhecido e usado no mundo inteiro. Poucas referências se encontram para o nosso poejo nativo. Por causa do seu uso popular, o poejo parece em tudo com uma erva inocente e inofensiva. Mas é preciso ter cuidado com o óleo, principalmente o extraído do poejo europeu. Este óleo é altamente tóxico e seu uso não controlado provoca lesões renais irreversíveis. Usado em doses elevadas como abortivo já causou mortes. 

39 QUEBRA-PEDRA Existem várias plantas medicinais com o nome popular quebrapedra, arrebenta-pedra ou também erva-pombinha. Chama-se assim, em primeiro lugar, porque são usadas para dissolver pedras dos rins, no que são realmente eficientes. Mas algumas delas costumam crescer no meio das pedras, o que justifica seu nome. Algumas são rasteiras e outras pequenas ervas. São de origem das Américas, do Texas à Argentina. Muito conhecidas entre a população, as ervas medicinais chamadas quebra-pedra são também muito comuns e frequentes. O uso mais comum é para os problemas de pedras nos rins, mas os livros indicam também outras propriedades. Um exemplo: “Elimina catarros vesicais, cálculos do fígado, areia dos rins e da bexiga, alivia as dores de cadeira e das juntas e a hidropisia. Combate dor de barriga, azia, prostatites. Chá das folhas e das sementes é indicado contra diabetes.” Para confirmar, a citação de outro livro: “Esta planta dissolve as areias e cálculos. É diurética, fortificante do estômago, aperiente. Usada para combater as cólicas renais, cistites, enfermidades crônicas da bexiga, hidropisia, distúrbios da próstata. Em alguns lugares, as folhas e sementes são usadas como remédio específico contra a diabete. Usa-se toda a planta.” Há várias quebra-pedras, todas da família Euphorbiaceae. Aquela bem rasteira, formando pequenas manchas compridas contra o solo, é a Euphorbia prostata, também chamada quebra-pedra-rasteira. As quebra-pedras eretas são de duas espécies, Phyllanthus niruri e Phyllanthus corcovadensis. Estas duas são muito parecidas. A primeira é menos ramificada, de um colorido geral meio avermelhado. A Segunda é mais ramificada, toda verde. Ambas têm em geral 20 a 50 cm de altura. Há ainda outra quebra-pedra, conhecida entre nós como sarandi, que os espanhóis chamam sarandí blanco. É o Phyllantus sellowianus, que cresce na beira dos rios ou mesmo entre as pedras no meio da água. Diz um autor: “Las hojas del sarandí blanco se amplean especialmente como diuréticas y antidiabéticas.” Outro autor dá outras indicações: “Esta espécie es muy utilizada contra diabetes, el asma y la alta presión.” 

40 QUEBRA-TUDO Esta planta medicinal, apesar de muito útil, é muito pouco conhecida. Por isso a apresento aqui. Não confundir com quebra-pedra, que é bem outra coisa. Tem outros nomes populares, como erva-delagarto, jasmim-do-mato, e outros. Seu nome científico é Calea pinnatifida, da família das Compositae. É planta nativa que ocorre muito no sul do Brasil. Encontra-se principalmente em beiras de mato e clareiras, sempre onde há bastante luz. É uma planta chamada escandente, porque sobe por cima e por entre os ramos e galhos de outras árvores e arbustos, apoiando-se neles, mas sem se enrolar. Dos ramos principais partem ramificações, sempre duas do mesmo ponto e em ângulo reto; é principalmente isto que faz que a planta se fixe na vegetação ao redor, formando grandes emaranhados. Os ramos novos parecem quadrados, mas, melhor observados, são sextavados, isto é, de seis lados. Os ramos velhos ficam arredondados. As folhas são pequenas, triangulares, com o lado da base mais curto. As flores nascem nas extremidades, formando cachos amarelos, que cobrem todo o emaranhado no começo da primavera. Sobre o valor medicinal do quebra-tudo não se encontra quase nada nos livros, mas as informações orais populares são muito ricas. Segundo a tradição popular o quebra-tudo é muito usado em rituais para banhos de descarga, o que dá uma idéia certa do seu valor desintoxicante. Um chazinho após as refeições é remédio certo para uma digestão difícil. Ainda com a vantagem de ajudar a emagrecer, segundo depoimento fidedigno de usuários com experiência própria. É esta uma das razões porque é muito procurado. Afirma-se também que é uma solução certa para uma ressaca. Mas cuidado: quando fizer seu chá de quebra-tudo não exagere na dose, ele é extremamente amargo. Constate isso mastigando um pedacinho de uma folhinha. Não conheço nada mais amargo. 

41 QUITOCO Por muitos esta planta medicinal é chamada arnica. Mas há muitas plantas que são chamadas arnica, as que são usadas para massagear contusões ou afomentar. O quitoco de que aqui se fala é identificado pelo nome científico Pluchea sagittalis, da família Compositae. Em outras regiões do Brasil recebe nomes esquisitos como caculucage, madrecravo e tabacarana. Em espanhol é chamado lucera ou hierba del lucero. É planta do continente sul-americano. Na literatura européia nada se encontra sobre ele. É uma erva que gosta de crescer em terrenos úmidos. As folhas são bem ligadas aos caules e correm ao longo deles. São mais peludas e pegajosas e quando esmagadas soltam um perfume muito bom. As flores formam conjunto de cabecinhas, brancas no início e depois castanhas. É estranho, mas sobre o uso popular do quitoco para afomentação não se encontra nada em nossos livros. Seu valor medicinal é bem variado. Segundo um livro, empregase o cozimento das folhas e raízes nas digestões difíceis, gases intestinais, inapetência, inflamações do útero, reumatismo, artritismo, resfriados, tosses e bronquites. Semelhantemente diz um outro que é digestivo, para diarréia, pressão alta, contém essências aromáticas, é estomacal e para fígado e gases, apendicite, antiinflamatório, para cólicas do útero, reumatismo, bronquite e tosse, regulador da menstruação. Uma publicação argentina diz: "La infusión de hojas y tallos es muy utilizada contra dolores de estómago, náuseas, vómitos, para facilitar la acción del intestino, del hígado, como digestivo y contra las indigestiones o empachos en general." Estas indicações são confirmadas por outro autor:"Las hojitas y el extremo de las ramas pequeñas se emplean mucho en infusión para combatir trastornos estomacales y sobretodo hepáticos." Na Argentina se vende um licor aperitivo muito conhecido, chamado "lucera", para fígado e bilis. 

42 SÁLVIA No século X se dizia à respeito da sálvia: “Por que haveria de morrer o homem de uma enfermidade podendo ter sálvia em seu jardim?” Apreciada desde antigas civilizações, seu valor já aparece no próprio nome científico, Salvia officinalis, e em grande parte dos nomes populares. Salvia deriva do verbo latino salvere, que significa ter saúde, passar bem. Associada tradicionalmente à longevidade, a sálvia tem fama de devolver a memória aos idosos. Quando países da Europa, como Inglaterra e Holanda, começaram a importar chá da China, os chineses davam tal valor à erva que ofereciam duas caixas de chá por uma de sálvia. Há muitas variedades de sálvias. Muito usada entre nós é a chamada sálvia-tempero, com folhas de cor um pouco arroxeada. As folhas frescas são um estimulante digestivo amargo. São antissépticas, reduzem a transpiração, a salivação e a produção de leite; são antibióticas, reduzem os níveis de açúcar do sangue e favorecem o fluxo biliar. São amplamente usadas na culinária. São ainda úteis em enfermidades hepáticas, em infecções do trato respiratório e transtornos nervosos, como ansiedade e depressão. Foram empregadas tradicionalmente na esterilidade feminina. Um gargarejo com sálvia com um pouco de vinagre e mel é considerado particularmente eficiente para gengivas irritadas, aftas, dores de garganta e problemas de mucosas. Os antigos recomendavam não usar as folhas de sálvia sem lavá- las bem, pois diziam que os sapos se abrigavam embaixo delas, envenenando-as com seu hálito e saliva. Recomendavam também plantar junto à sálvia arruda, para afastar os sapos. Daí o dito popular em latim “Salvia cum ruta faciunt tibi pocula tuta”, o que significa que sálvia com arruda tornam tuas bebidas seguras. 

43 SÁLVIA-DA-GRIPE O nome científico desta planta medicinal é Lippia alba, da família Verbenaceae. Popularmente é conhecida por uma porção de nomes, que variam conforme a região: erva-cidreira-de-campo, alecrimdo-campo, salsa-brava, salvia e sálvia-do-Rio Grande do Sul, salva, salva-limão e lípia. Os argentinos a chamam de salvia-maestra e salviade-jardin. Geralmente forma touceiras baixas de ramos finos e longos que se dobram para o chão. As folhas, bem verdes, simples, e ásperas, crescem aos pares, opostas; na base delas aparecem os tufos de flores lilases. Tem a propriedade de produzir raízes nos ramos, quando estes tocam no solo. Suas propriedades medicinais são indicadas de várias maneiras em regiões diferentes da América Latina. O chá ou xarope das folhas com mel é utilizado contra gripes e tosse. O chá das folhas é útil para acalmar crianças e dar sono. Outras indicações dizem que o chá das folhas é gostoso, gosto de limão, e serve para fortalecer o cérebro e os nervos, a memória e contra o histerismo. Além disso se diz que é planta antiespasmódica, estomáquica, sucedânea da sálvia e da melissa em quase todo o nosso país. Contém saponina e nas folhas frescas um óleo essencial. Indicações interessantes vem da Argentina. Para suprimir as cólicas menstruais e cortar as regras excessivas, se prepara um cozimento com um punhado de folhas em meio litro de água, o qual deve beber-se três vezes ao dia a modo de chá. Esta receita goza de grande aceitação popular e algumas sustentam que às vezes basta tomá-la uma só vez. Segundo algumas curandeiras, um remédio eficaz para a falta de memória consiste em colocar um ramo de sálvia-da-gripe debaixo do travesseiro. 

44 SERRALHA A serralha é uma planta muito conhecida no meio rural. É muito frequente como invasora nas culturas e por isso é considerada erva daninha. Mas também é muito usada para pasto dos animais. “Como o caule é lactescente, diz um autor, imaginou-se no passado que a planta poderia estimular a lactação, em mulheres e fêmeas de animais. Cabras e bovinos apreciam as folhas e ainda hoje se diz que sua ingestão aumenta a produção de leite.” A serralha de que aqui se trata, chamada também serralha-lisa, é a mais comum e tem o nome científico Sonchus oleraceus, da família Compositae. Distingue-se de outra que é chamada serralha-áspera ou serralha-espinhenta, de folhas realmente espinhentas. A serralha-lisa chega a cerca de 1 m de altura. Tem o caule oco e bastante mole, as folhas são recortadas. Tem flores amarelas, as sementes formam uma bola branca e são carregadas pelo vento. A serralha-lisa é um saudável alimento também para os homens. É consumida geralmente como salada, apesar do seu gosto amarguento. As folhas contêm alto teor de vitamina C e de sais minerais. Já os romanos usavam a planta como salada e era recomendada por suas propriedades nutritivas e curativas. Estas propriedades curativas são várias, indicadas por vários e de várias maneiras. É utilizada no tratamento de hepatites crônicas e como depurativo. O líquido que sai de suas folhas, conhecido como látex, é ótimo remédio contra o terçol. Já em 1910 um médico gaúcho escrevia, na ortografia de então: “O suco da herva póde ser empregado como emoliente, aperitivo e lithotríptico. Toda a planta é galactagoga das cabras e das vacas que a comem. Deveria ser experimentada em Gynecologia”. Na Argentina é chamada cerraja. De lá vem esta receita: “De acuerdo con la indicación de una ‘medica’, para prepararse una poción contra la tos, se pone a hervir un litro de água y cuando rompe el hervor, se añaden una planta entera de cerraja y una cucharada de miel de abeja, dejando-se hervir unos cinco minutos, hasta que adquiere consistencia de jarabe. Puede tomarse caliente o frio”. 

45 TANACETO Tanaceto é o nome popular de uma planta medicinal que tem o nome mais popular ainda de catinga-de-mulata, além de se chamar também tanásia, atanásia, erva-dos-vermes, erva-das-moscas. O amazonense Sacaca, ervateiro e também mulato, prefere que se chame cheiro-de-mulata. Seu nome científico é Tanacetum vulgare, da família Compositae. No seu nome científico e em alguns populares aparece a idéia de imortalidade, que talvez venha de suas flores que são muito duradouras. Ela é de fato uma planta ornamental e diz um autor inglês que é cultivada frequentemente nos jardins de ervas por suas atrativas e duradouras inflorescências amarelas, que se empregam além disso nos pot-pourris e outros artigos perfumados destinados a repelir insetos. Por causa do seu cheiro forte e suas propriedades inseticidas era muito usada nos tempos pouco higiênicos da Idade Média para se espalhar no chão das casas e nos locais públicos para mascarar o mau cheiro e afugentar as moscas. Era espalhada por toda casa: nos tetos, onde afastava moscas, nos guarda-roupas e armários, que protegia das traças, sob os colchões e na casa do cão, que defendia das pulgas e na cozinha, entre as especiarias, pois uma pitada confere ótimo sabor a omeletes e pudins. Em relação ao seu uso medicinal é preciso observar, antes de mais nada, que se trata de uma erva forte e não deve ser consumida em grandes doses e nunca por gestantes, pois é abortiva. Remédio muito popular contra vermes, o tanaceto costuma ser administrado sob forma de chá à noite e pela manhã, com o estômago vazio. Em doses pequenas é estomáquico, antiflatulento e revigorante. Há também o folclore. Uma curandeira argentina traz esta receita interessante para estudantes e velhos: "Cuando hay debilidad de memoria, se estruja una planta dentro de un recipiente que contenga un litro de água y se pone al sol por algunas horas; con este macerado hay que lavar-se la cabeza e inmediatamente envolverla con uma toalla. Segun la curandera que transmitió esta información, se trata de un remedio infalible para fortalecer dicha actividad mental.” Por último, uma grande virtude do tanaceto: uma simples folha, colocada entre a sola do pé e a meia, evita a fadiga. Esta está num livro inglês de 1991. 

46 TANCHAGEM A tanchagem, também chamada tansagem, transagem ou plantagem, é uma planta invasora muito mal vista em hortas e jardins. Ao longo de uma haste, que sai de uma roseta de folhas, se forma uma quantidade muito grande de sementes muito pequenas, e estas garantem sua dispersão eficiente e consequente infestação. Encontram-se espécies diferentes de tanchagem entre nós. A mais comum tem o nome científico Plantago tomentosa. É a que se encontra nos gramados, beira de caminhos, lavouras abandonadas. Uma outra, Plantago lanceolata, tem as folhas estreitas e compridas, e as sementes se formam só num tufo na ponta da haste. Uma terceira é a Plantago major, que, como seu nome diz, é a maior de todas. Tem as folhas estreitas na base e muito alongadas e arredondadas para a ponta. Estas três são as mais conhecidas e usadas. Podem ser usadas primeiro como salada. Não são grande coisa quanto ao gosto, mas, quando novas, servem muito bem para misturar com outras saladas. Seu uso principal é medicinal, e neste caso suas propriedades são extraordinárias. Provavelmente o uso mais comum é como antiinflamatório. Externamente seu cozimento, seu suco ou a própria folha amolecida na fervura, são usados para todo tipo de lesões, feridas. Internamente o chá ou a tintura são realmente eficientes contra todos os tipos de inflamações. Muito usada nos problemas do aparelho respiratório. Para as crianças se recomenda contra a tosse um xarope de tanchagem: o suco espessado adoçado com mel ou açúcar. As sementes são levemente laxantes. Por fim uma boa notícia para eles e para nós, isto é, para os fumantes e os não fumantes. Segundo vários autores, na expressão de um deles, "o uso da tisana (= chá) de tanchagem origina repugnância ao desejo de fumar, como diz a experiência dos antigos". 

47 TOMILHO O tomilho não é em nossos dias muito conhecido popularmente. Mais conhecidas são outras espécies da mesma família, pertencentes ao mesmo grupo, como manjerona, hortelã, alecrim e manjericão. Seu nome científico é Thymus vulgaris, da família Lamiaceae (Labiatae). É uma planta ao mesmo tempo condimentar, aromática e medicinal. Devido a esta soma de qualidades não admira que tenha sido usada desde a antigüidade até nossos dias, e hoje continua em uso em muitas regiões e para diversas finalidades. Na culinária usam-se as folhas e os brotos frescos ou secos e pulverizados. Vai bem com molhos que acompanham raízes (cenoura, beterraba, nabo), nas sopas, recheios para pepinos, tomates e nos pratos de repolho e leguminosas. Ajuda a fazer a digestão das comidas com gordura. Para alguns o uso preferido é nos vinagres e nos óleos, que depois de prontos vão perfumar saladas e massas. O tomilho é ainda um dos segredos do perfume do famoso licor Benedictine. São variadas suas propriedades medicinais. O princípio ativo mais importante é o óleo essencial que confere à planta sua ação espasmolítica e desinfetante. Os pulmões e os brônquios, o estômago e o intestino são órgãos aos que mais ajuda o tomilho. O chá ou os extratos em forma de gotas e sucos acalmam a tosse convulsiva, as bronquites crônicas e agudas e os ataques de asma. O tomilho atua como tonificante no trato digestivo. Estimula o apetite e melhora a digestão dos alimentos. Estas propriedades do tomilho não passaram despercebidas dos antigos. Desde o 3° século antes de Cristo se experimentavam as propriedades medicinais desta planta. Galeno, Teofrasto e Discórides já explicavam as aplicações antissépticas e higiênicas, emenagogas e abortivas, assim como suas propriedades antiinflamatórias e antiespasmódicas. E não podiam faltar as propriedades mágicas do tomilho. Um travesseiro recheado de tomilho evita os pesadelos, e usar um raminho no bolso ou na bolsa afasta os fluídos negativos de certos ambientes carregados. 

48 URTIGA Na opinião da maioria absoluta das pessoas de hoje, a urtiga é uma planta pelo menos inútil ou um inço, mais provavelmente, uma praga, por causa da coceira ou da ardência que o ácido contido em suas minúsculas agulhas provoca na pele ao ser tocada. Entretanto ela foi e continua sendo uma planta útil sob vários aspectos. São conhecidas entre nós três espécies de urtiga: a urtiga nativa, planta comum nas lavouras, que é a Urtica urens, dos botânicos; uma urtiga européia, Urtica dioica, parecida com a nossa; e o urtigão, que se encontra nas capoeiras e matas e chega a dar uma árvore, que é a Urera baccifera, que dá uns cachos vermelhos de frutinhas brancas, comestíveis. Todas são da família Urticaceae. A urtiga foi usada antigamente como planta têxtil. Com suas fibras se fabricavam tecidos finos e grosseiros e também cordas. Estas fibras são consideradas de ótima qualidade e comparadas ao melhor algodão egípcio. Por estranho que pareça, a urtiga é também uma planta comestível. Com o calor a substância urticante perde suas propriedades, de maneira que pode ser consumida tranqüilamente. Por isso se encontram nos livros receitas de sopa de urtiga, salada e mesmo vinho e cerveja de urtiga. Era usada também para coalhar o leite, do qual resultava um queijo apreciado. O valor medicinal da urtiga é bem variado. Assim diz um livro: “Na Europa, no século passado, a sopa de urtigas era um dos principais alimentos para curar as crianças anêmicas”. Outro livro, canadense, diz: “Todas as partes da urtiga, caule, folhas, flores e raízes, possuem propriedades medicinais. A urtiga é rica em ferro e magnésio; é por isso que ela ajuda a combater a anemia e eleva a taxa de hemoglobina no sangue”. O mesmo livro faz referência também à flagelação terapêutica com urtigas, considerada benéfica desde a antiguidade e remédio sem precedentes contra o reumatismo, mas pouco apreciado pelos pacientes de hoje. Mais fáceis de utilizar, a decocção da raiz e as compressas quentes das folhas trituradas se empregam igualmente para banhar as partes afetadas pelas dores reumáticas e artríticas. Ainda uma indicação muito prática: uma infusão forte, embebida em algodão, aplicada no interior da boca, é um remédio milagroso para aftas. E, entre muitas outras, ainda esta receita, que aparece num livro argentino: “La decocción de la planta suele ser utilizada como pócima para adelgazar especialmente por las mujeres, debiendo beberse en pequeña cantidad.” Note-se que “aldegazar” significa emagrecer. 

49 VIOLETA A violeta de que aqui falamos é aquela plantinha rasteira, de folhas arredondadas, por entre as quais aparece, na ponta de uma haste longa, uma flor azul, perfumada. É também chamada violeta-de-cheiro, violeta-perfumada, violeta-européia, e violeta-de-jardim. Seu nome científico é Viola odorata, da família Violaceae. Muito cultivada antigamente, é mais rara hoje e não deve ser confundida com a violetaafricana, introduzida mais recentemente e amplamente cultivada em vasinhos. Tão antigo como a violeta, é o seu valor medicinal. Homero, poeta grego, conta que os atenienses usavam violetas para moderar a raiva. Plínio, historiador romano, recomendava usar uma grinalda de violetas para prevenir dores de cabeça e vertigens. Os romanos ainda bebiam vinho aromatizado com violetas, e foram criticados pelo poeta Horácio por passarem mais tempo cultivando violetas que oliveiras. Os muçulmanos elogiavam as violetas quando diziam que a “excelência das violetas é como a excelência do Islam acima de todas as outras religiões”. Modernamente, segundo um autor atual, as violetas se usam fundamentalmente para a tosse, a bronquite e o catarro. Nos anos trinta se empregavam muito para o câncer de mama e o pulmão. Figuram em terapias alternativas para o câncer, especialmente após a cirurgia, para impedir o desenvolvimento de tumores secundários. Outro autor atual diz o seguinte: Herbalistas modernos valorizam as propriedades expectorantes das folhas e flores, e as receitam para tosses, bronquite e catarro. Uma série de testes realizados nos anos 60 mostrou que um extrato de folhas de violeta inibiu o crescimento de tumores em ratos. Confirmando propriedades conhecidas e outras insuspeitas, diz outro autor, também atual: Uso interno: bronquite, catarro respiratório, tosse, asma e câncer de mama, pulmões ou tubo digestivo. E um outro autor completa: As folhas e as flores se empregam principalmente no tratamento dos transtornos respiratórios, em especial do catarro nasofaríngeo crônico e da bronquite. Empregadas em xaropes para tosse; se empregam também no tratamento de reumatismo. Utilizam-se como gargarejos em casos de inflamação da mucosa bucal. Em relação ao uso interno, apenas uma restrição; em doses elevadas, as violetas provocam náuseas e vômitos, por causa dos efeitos irritantes das suas saponinas no sistema digestivo.

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